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No Norte, falta de segurança aquaviária abre portas para crime organizado: em quatro meses, piratas dos rios já roubaram mais de 1,5milhão de litros de combustível na região

Publicado em 14/06/2022 por Alessandra de Paula

Os ataques de piratas às embarcações que fazem o transporte de combustível na região Norte do país são um problema gravíssimo, que coloca vidas em risco e pode provocar ainda o desabastecimento de postos de combustíveis e de termoelétricas movidas a diesel. A situação demanda medidas urgentes para aumentar a segurança do transporte aquaviário.

O assunto foi, inclusive, tema da série de reportagens Desafios do Abastecimento na Amazônia, realizada pelo site do Instituto Combustível Legal (ICL), e pauta de debate, junto às autoridades locais, no Programa ATAC Manaus, realizado em março pelo instituto. Para Carlo Faccio, diretor do ICL, se a fragilidade da segurança no sistema rodoviário já é preocupante, no aquaviário é pior ainda:

“As balsas têm capacidade de transportar milhões de litros de combustível, chamando atenção dos chamados piratas dos rios. Eles abordam as balsas e fazem a drenagem dos tanques, levando o produto para as cidades ribeirinhas. Os criminosos usam o combustível roubado [diesel e gasolina] para promover o abastecimento de veículos usados em ações ilegais, incluindo aviões para transporte aéreo de drogas que vêm da Colômbia, da Venezuela… O transporte aquaviário não conta ainda com uma polícia dedicada à fiscalização, falta monitoramento das embarcações, até para dar mais garantia de previsibilidade ao abastecimento”, explicou.

Mais de 1,5 milhão de litros de combustível roubados

Nos quatro primeiros meses deste ano, os piratas do rio já realizaram quatro abordagens e assaltos a embarcações que transportam cargas e combustíveis nos rios do Amazonas, totalizando, apenas em gasolina e óleo diesel, mais de 1,5 milhão de litros levados pelas quadrilhas organizadas.

As balsas têm capacidade de transportar milhões de litros de combustível, chamando atenção dos chamados piratas dos rios. Eles abordam as balsas e fazem a drenagem dos tanques, levando o produto para as cidades ribeirinhas. Os criminosos usam o combustível roubado [diesel e gasolina] para promover o abastecimento de veículos usados em ações ilegais, incluindo aviões para transporte aéreo de drogas que vêm da Colômbia, da Venezuela

Os números fazem parte do levantamento realizado pelo Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial no Estado do Amazonas (Sindarma) e indicam a alarmante situação em que se encontra a falta de segurança no transporte de combustível para os municípios do interior do estado. Madison Nóbrega, vice-presidente do Sindarma, explica que a situação começou a se agravar em 2021, quando o estado do Pará inaugurou uma base flutuante, investindo no combate à pirataria na região:

“Como o estado do Amazonas não teve ainda consciência da gravidade que é a pirataria, os criminosos que atuavam no Pará começaram a migrar para outros rios, como Madeira, Solimões… As empresas de navegação contrataram empresas privadas de segurança, e como não há uma solução a curto prazo, alguns tripulantes não querem mais trabalhar em balsas para transporte de combustíveis devido à incidência de assaltos. Quando os piratas abordam as balsas, agem com violência. Já tivemos casos de vítimas que perderam a orelha, que levaram tiro… Como não estamos conseguindo tripulantes, está chegando o momento em que vamos ter que parar as embarcações e deixar de atender às distribuidoras”, alertou o vice-presidente do Sindarma.

Piratas dos rios: prejuízos para as empresas e histórico de violência

No maior roubo registrado este ano, um grupo de 28 assaltantes invadiu uma embarcação no município de Manicoré, no dia 28 de janeiro, e transferiu para suas embarcações ilegais um milhão de litros de óleo diesel, além de manter a tripulação refém por dois dias, sob ameaças e agressões físicas.

Coincidentemente, na mesma data, outra embarcação que transportava 91 mil litros de gasolina e óleo diesel também foi abordada e assaltada no Paraná do Espírito Santo, no município de Parintins.

Além de levar o combustível, os cinco criminosos armados agrediram a tripulação com coronhadas e depois mantiveram a equipe trancada por 12 horas em um único camarote.

Em outro assalto, ainda nos primeiros dias deste ano, na região de Itacoatiara, além de levarem quase 500 mil litros de combustível, os criminosos navegaram com a tripulação presa na cozinha da embarcação até as proximidades do município de Borba, onde as vítimas conseguiram registrar o Boletim de Ocorrência.

E no mais recente caso, em frente à orla de Manaus, dois tripulantes de um bote de apoio de um empurrador foram obrigados a sair da pequena embarcação e deixados na Ilha do Marapatá até serem resgatados enquanto os ladrões fugiram levando o barco.

Alto custo de escolta armada não impede ação dos piratas, diz sindicato

De acordo com Nóbrega, as empresas de navegação têm investido grande montante de recursos próprios para manter a regularidade no abastecimento de combustível aos municípios do interior do estado.

Entre as principais ações realizadas, estão a contratação de escoltas de segurança para acompanhar os comboios e o monitoramento, via satélite, das embarcações 24 horas por dia. Porém, as iniciativas ainda não são suficientes, uma vez que os piratas seguem agindo livremente em todo o estado do Amazonas.

Segundo Nóbrega, o custo da guarda armada não está computado no preço do transporte, por isso, o sindicato pede o apoio das autoridades e das distribuidoras, uma vez que o produto pertence às empresas.

“As distribuidoras sempre nos ajudaram e, mais uma vez, estamos pedindo socorro. A Marinha foi o primeiro órgão do Governo Federal que se prontificou a ajudar. Eles autorizaram a navegação com escolta armada. Foi isso que nos salvou, senão, era suicídio. O governo do estado já assinou algumas propostas, mas ainda não saíram do papel. A situação é gravíssima e precisamos realmente de ajuda”, alertou o vice-presidente do Sindarma.

Realizada pelo ICL em Manaus, segunda edição do Programa ATAC debateu a pirataria nos rios

O assunto foi tema da segunda edição do Programa ATAC (Armazenamento, Transporte & Abastecimento de Combustíveis), realizado em março deste ano em Manaus.

Na abertura, Guilherme Theophilo, CEO do ICL, destacou a importância de unir forças e de criar estratégias conjuntas para atuar na Região Amazônica, especialmente por ser um território estratégico para o Brasil.

“Pela vivência que tenho aqui nessa região, sei das dificuldades logísticas pelo [fato de o] rio ser a principal ‘estrada’ dessa localidade. Esse é primeiro de outros eventos que pretendemos realizar na Região Norte, pois essa é uma localidade muito importante para todo o país”, enfatizou.

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