Quebra do motor e retífica… Danos causados por lubrificantes falsificados podem ultrapassar dez mil reais. Saiba como evitar cair em golpes!
Publicado em 24/06/2025 por Alessandra de Paula
Os lubrificantes falsificados representam uma ameaça crescente para os motoristas, comprometendo a saúde de motores e gerando prejuízos financeiros significativos. Segundo especialistas do setor, como Laercio Kalauskas, diretor do Sindicato Interestadual do Comércio de Lubrificantes (Sindilub), e Fernanda Ribeiro, gerente de produtos da ICONIC, o uso de produtos falsificados, ou fora de especificação, pode causar danos graves, muitas vezes irreversíveis, aos veículos. É importante destacar que, segundo dados do Instituto Combustível Legal (ICL), um em cada cinco lubrificantes vendidos no Brasil é falsificado.
Malefícios dos lubrificantes falsificados
Laercio Kalauskas explica que um lubrificante de qualidade é essencial para o funcionamento de um motor, que conta com centenas — ou até milhares — de peças móveis. Desde a partida, o lubrificante precisa alcançar rapidamente todas as partes do motor, mesmo nas condições mais extremas, como temperaturas baixas, ou altas. Ele também é responsável por reduzir o atrito, controlar a temperatura e limpar resíduos da combustão.
Quando o lubrificante é falsificado, ele não cumpre essas funções. Segundo o especialista, para os veículos mais novos, a fraude pode significar o comprometimento da garantia, formação de borra, que entope dutos e a bomba de óleo, além de desgaste acelerado das peças do motor.
Problemas podem exigir até mesmo retífica do motor
“Uma vez que os lubrificantes falsificados não atendem — nem de longe — aos requisitos de um bom lubrificante, o potencial lesivo é grande. O proprietário não escapa do prejuízo. O tipo de conserto vai depender muito da operação de cada veículo. As pessoas imaginam que, muitas vezes, um veículo que roda apenas dez quilômetros por dia, levando e buscando os filhos na escola, poderia sofrer um conserto de menor valor. Não é verdade. A formação de borra, corrosão, entupimento nos dutos e falha na lubrificação são consequências do uso de um lubrificante sem os componentes necessários para promover a limpeza do motor, limpeza essa exigida pela combustão. A retífica é certa”, frisou.
De acordo com Fernanda Ribeiro, da ICONIC, existem diferentes tipos de reparos para os danos gerados por lubrificantes adulterados. Podem variar desde a simples troca do óleo e do filtro até a substituição de peças danificadas, como pistões, mancal do virabrequim, comando e válvulas, ou, em casos extremos, a necessidade de uma retífica completa do motor.
Segundo ela, é comum ter, em casos mais extremos, motores “fundidos” prematuramente ou cheios de borra no seu interior, além de turbo alimentadores, variadores de fase e correia lubrificadas inutilizados muito antes do término da sua vida útil.
“Os lubrificantes automotivos possuem cerca de 20% de aditivos em sua composição, entre eles, estão os melhoradores do índice de viscosidade, antioxidantes, inibidores de corrosão ou ferrugem, antidesgaste, abaixadores do ponto de fluidez, dispersantes e detergentes, redutores de atrito e antiespumantes”, lista a especialista.
Quebra de pistão e do bloco do motor
Com a ausência desses agentes, a gerente lembra que os problemas mais comuns proporcionados aos veículos são desgaste prematuro, corrosão, dificuldades na limpeza e na remoção de depósitos, oxidação acelerada do óleo e aumento do consumo de combustível. Ela ressalta que o prejuízo é maior em motores turbo com injeção direta, mais sensíveis a adulterações e com peças de reposição de valor elevado.
“Um caso regularmente constatado é a necessidade de conserto diante da quebra de pistões ou, até mesmo, do bloco de motor. O óleo falsificado ainda pode conter substâncias que atacam as partes metálicas do motor, causando corrosão e, consequentemente, danos ao sistema”, frisou.
Quando os problemas começam a aparecer?
Os danos causados por lubrificantes falsificados não seguem um prazo fixo. “Depende da utilização do veículo, da quilometragem, do clima e do estado de conservação”, explica Kalauskas. No entanto, ele alerta que o efeito danoso é imediato, mesmo que silencioso. “O problema pode surgir a qualquer momento, pegando o motorista desprevenido”, ressaltou.
Já de acordo com Fernanda, os problemas mais sérios, como quebra de pistões ou bloco de motor, podem ocorrer logo após o uso do lubrificante falso.
“Se o lubrificante falso não causar falhas imediatas, pode levar a um desgaste acelerado dos componentes do motor, que pode gerar problemas de desempenho, superaquecimento e falhas prematuras”, alertou.
Os custos causados pelos lubrificantes falsificados
Com a experiência de quem conserta motores diariamente, a mecânica e jornalista Nicole Ranzini afirma que, devido à variedade de modelos de carros que existe no mercado brasileiro, não é fácil determinar o valor médio dos consertos, mas o travamento do motor é um dos problemas mais graves e caros de consertar.
“Porque, se não tem lubrificação, o motor pode travar e aí vai agarrar tudo. Nesse caso, temos que desmontar o motor inteiro e ver o que aconteceu com as peças. Provavelmente, essas peças não poderão ser reutilizadas. O prejuízo nesse caso é superior a R$ 10.000,00 com certeza, mas vai depender do tipo de motore do tipo do carro”, explicou.
De acordo com Fernanda, os motores atuais têm uma engenharia extremamente avançada e uma taxa de compreensão alta, exigindo ajustes perfeitos.
“Os motores de três cilindros, por exemplo, nasceram com a ideia de unir a eficiência e o desempenho à economia de combustível e à baixa emissão de poluentes. Um carro com 7 mil quilômetros não pode ser impactado por um lubrificante mais em conta. Estamos falando de uma manutenção que custa de R$ 15 a R$ 20 mil e de um veículo parado por cerca de 25 a 30 dias”, destacou.
Como evitar lubrificantes falsificados
Para proteger seu veículo, o consumidor deve ser cauteloso na hora de adquirir lubrificantes. Fernanda Ribeiro, da ICONIC, orienta a escolha de fornecedores confiáveis e realização de pesquisas prévias.
“É essencial que o consumidor procure por lojas e revendedores que ofereçam produtos de qualidade e que sejam reconhecidos no mercado. O motorista deve se certificar que a embalagem do lubrificante está lacrada e em bom estado, e que tem todas as informações necessárias. Deve-se desconfiar sempre de lubrificantes que são muito baratos, pois eles podem ser falsificados”, apontou.
Outra boa estratégia, segundo ela, é procurar por informações sobre o produto e a empresa no site da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Periodicamente, a agência realiza um programa de monitoramento da qualidade do lubrificante no mercado apontando produtos e empresas não conforme em qualidade.
No caso de lubrificantes a granel, Kalauskas recomenda verificar a data de fabricação e o número do lote nos tambores. “Tambores originais podem ser reutilizados e preenchidos com produtos falsificados. Se a data estiver vencida, ausente ou muito antiga, desconfie.” Além disso, é essencial checar a qualidade do rótulo, o código de barras, o QR Code e o registro na ANP.
Outra dica é entrar em contato com o SAC da marca para confirmar a autenticidade do produto. Em caso de suspeita, a ANP oferece um canal de denúncia anônima pelo número 0800 970 0267.
Os especialistas são unânimes: lubrificantes falsificados econômicos é o barato que pode sair muito caro, com altos custos de reparo e riscos à segurança do veículo. Com atenção redobrada e escolhas conscientes, o consumidor pode evitar prejuízos e garantir a longevidade do veículo.
Leia também: