Lubrificantes falsos: o desafio silencioso que ameaça veículos e consumidores
Publicado em 01/07/2025 por Redação
Por Emerson Kapaz*
Há algum tempo, ouvi de um renomado especialista em lubrificantes a seguinte frase: “…motores modernos não aceitam desaforo. Se o lubrificante utilizado estiver fora das especificações, vão quebrar.” Agora são os mecânicos que confirmam a “epidemia” em que o remédio pode custar mais de R$ 10 mil para o consumidor.
Isso me lembrou uma antiga reportagem do Fantástico, em que o repórter, mostrando um frasco, dizia: “parece gasolina, tem cor de gasolina, tem cheiro de gasolina, mas não é gasolina”. Ele se referia a um criminoso “blend” de solventes, corantes e aromáticos que inundavam o mercado irregular de combustível.
Tudo indica que esse cenário nebuloso chegou aos lubrificantes. Um recente levantamento do Instituto Combustível Legal (ICL) revela que cerca de 20% dos lubrificantes automotivos comercializados no Brasil são adulterados ou falsificados, ou seja, um a cada cinco produtos.
No caso dos lubrificantes, ainda há um agravante: as falsificações são difíceis de serem detectadas imediatamente. A embalagem parece original, mas, lá dentro, pode conter simplesmente óleo reciclado, portanto, na cor original do produto novo, porém sem nenhuma formulação, sem nenhum aditivo. Ou seja, lubrificante não é e os transtornos para o motorista chegam rápido.
Os estragos na economia estão estimados em R$ 1,4 bilhão por ano, entre perdas fiscais, fraudes comerciais e danos mecânicos a veículos de passeio, utilitários e frotas inteiras. Estamos diante de uma grande dor de cabeça para a indústria automobilística e para os consumidores. Um cenário grave que merece redobrar a nossa atenção, exigindo uma vigilante ação dos órgãos reguladores.
Ao contrário, no entanto, se anuncia um forte corte orçamentário na ANP, que já vem prejudicando o trabalho de fiscalização. Uma lamentável medida que pode afetar fortemente a autonomia da agência reguladora. Diante da falta de recursos mínimos para um funcionamento correto, já se estuda até o fechamento das sedes da agência, tanto Rio como em Brasília.
A decisão governamental resultou em forte manifestação contrária. A preocupação é totalmente procedente diante do avanço do crime organizado e das diversas ilegalidades que afetam o setor de distribuição de combustíveis.
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*Emerson Kapaz é presidente do Instituto Combustível Legal (ICL)