voltar

Notícias

Comércio Irregular

Como a Polícia Rodoviária Rodoviária (PRF) criou um teste rápido e de baixo custo para descobrir fraudes no Arla 32

Publicado em 25/08/2023 por Alessandra de Paula

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) realiza um trabalho pioneiro de fiscalização e combate a fraudes no Agente Redutor Líquido Automotivo, conhecido como Arla 32, um reagente químico fabricado para reduzir e emissão de poluentes do ar, ao transformar óxidos de nitrogênio em vapor de água e nitrogênio, que é um gás inerte na atmosfera.

De acordo com Paulo Henrique Demarchi, policial rodoviário federal e consultor técnico do grupo de enfrentamento aos crimes da PRF, foram os agentes da instituição que descobriram fraudes no Arla 32 e, a partir daí, criaram novas formas de combater esse crime:

“Em um primeiro momento descobrimos a fraude, depois constatamos que era uma irregularidade de trânsito e um crime ambiental. Mas, na época, em 2015, 2016, nada era feito, ninguém fiscalizava, nem o Ibama, nem a Companhia Ambiental de São Paulo (Cetesb)”, contou Demarchi.

Os agentes da PRF desenvolveram então o teste Negro de Eriocromo T, um reagente de cor preta que, quando adicionado ao Arla 32, revela se o produto está adulterado:

“A gente retira 50 ml do reagente no veículo e pinga 1 gota de Negro de Eriocromo T. Se ficar azul bem vivo, significa que é Arla 32. Se mudar de cor, ficar violeta, marrom… é sinal que  o produto foi adulterado com aditivos proibidos como água e uréia de baixa pureza. Esse teste é excelente porque dá a resposta em 5 segundos, e custa menos de R$ 2 centavos. Então, possibilitou a polícia fiscalizar o reagente na pista. Antigamente, a gente tinha que retirar 3 litros de Arla 32 do veículo, pagar R$ 800  e esperar 1 mês pelo resultado, era inviável. Esse teste trouxe rapidez e economia. Atualmente, o agente pode fiscalizar quantos veículos quiser no plantão dele, sem custo alto ou demora nos resultados”, explicou.

O teste começou a ser aplicado nas rodovias em 2017, mas eram poucos os estados que adotavam a prática. Atualmente a fiscalização está mais difundida pelo país, principalmente em estados como São Paulo e Mato Grosso, por outro lado, a fiscalização nos estados do Norte e Nordeste ainda é tímida:

“No início, quando a PRF começou a fiscalizar, a fraude era detectada em 40% a 50% da frota. Hoje gira em torno de 20%, 30% da frota, ainda é um número alto, mas percebemos que está caindo. Todo caminhoneiro e empresário do setor de transportes sabe que a PRF fiscaliza e, se a gente pegar, é um problema muito grande, porque tem a possibilidade da multa de trânsito, tem a multa ambiental e tem o crime, não é simples a solução do problema”, alertou.

E as multas podem ser altíssimas! Segundo Demarchi, quando agentes da PRF flagram irregularidades, fazem um boletim de ocorrência, que é enviado para o Ministério Público e para o Ibama. O dono é obrigado a levar o veículo para uma oficina, fazer manutenção e provar que o carro/caminhão não está poluindo.

“Essa manutenção pode custar até R$ 40 mil. A multa de trânsito é barata, custa cerca de R$ 340, mas a multa ambiental depende da empresa responsável pelo veículo, e pode variar de R$ 5 mil a R$ 50 milhões. Eu já vi multa de R$ 1 milhão!”, revelou o consultor.

O teste desenvolvido pela PRF mudou inclusive a multa no código de trânsito brasileiro, que foi estabelecido em 1997. Na época, o código apontava como poluente a fumaça preta, ou seja, o diesel não queimado. De acordo com o consultor da PRF, a tecnologia veicular mudou totalmente, e o poluente a ser fiscalizado é outro, então o código foi atualizado a partir do trabalho de desenvolvido pela PRF.

Irregularidades no Arla 32

As fraudes mais comuns no que diz respeito ao reagente são adulteração e fraudes eletrônicas. O Arla 32 é um fluido composto por uréia de alta pureza e água desmineralizada nível farmacêutico. De acordo com Demarchi, os criminosos misturam Arla 32 com água da torneira ou fabricam Arla 32 usando uréia agrícola, que é muito mais barata e isenta de impostos:

“A uréia automotiva, usada para fazer Arla 32, paga todos os impostos normalmente, e 80% do custo do Arla é uréia, logo, quando se usa uréia mais barata, é possível obter uma vantagem competitiva absurda em relação aos concorrentes. O Arla 32 adulterado provoca um colapso no sistema veicular, os caminhões quebram, dá muito problema nos veículos. As fábricas ilegais de Arla 32 são muito difundidas no Brasil, principalmente em locais com maior trânsito, como São Paulo, Minas Gerais, Goiás, e Rio de Janeiro, mas tem no país todo”, frisou.

Já a fraude eletrônica utiliza um dispositivo que altera o software da central eletrônica do veículo, ou usa um emulador, que é proibido no Brasil, para o veículo não consumir Arla 32. “Ou seja, o veículo tem Arla 32, mas não é utilizado”, explica o consultor.

Para fiscalizar a fraude eletrônica, a PRF desenvolveu junto com a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA) um manual para identificar o problema:

“Com a ajuda do manual, basta mexer na caixa de fusível do veículo e fazer a leitura do painel, dessa forma conseguimos revelar a fraude”, explicou.

Arla 32 e o meio ambiente

Demarchi ressaltou ainda a importância de usar o combustível ‘legal’ e as tecnologias certas, e nesse contexto, o Arla 32 é fundamental:

“O veículo motor é o maior poluente do mundo, ultrapassando a indústria. O Arla 32 combate vários problemas como o material particulado, mas o principal deles é o óxido de nitrogênio, um poluente muito agressivo à saúde humana, cancerígeno, e que também afeta o meio ambiente. A poluição causada pelo veículo motor mata mais do que acidente de trânsito. Vale lembrar que o lema da PRF é salvar vidas, mas não é salvar vidas só no acidente de trânsito, mas também da poluição provocada por veículos que estão andando de forma irregular pelo Brasil. Um veículo adulterado e um combustível adulterado são maléficos para o meio ambiente e para as vidas humanas”, destacou.

Em termos de fiscalização de emissões veiculares, a PRF é referência no mundo, de acordo com Demarchi: “Acompanhei apresentação de fiscalizações de veículos na Europa e nos EUA, e lá eles mostram imagens dos nossos PRF fiscalizando. Somos referência não só no combate à poluição atmosférica, como à poluição sonora e transporte de produtos perigosos”, completou.

Leia também:

Gostou dessa notícia? Compartilhe!

Últimas notícias

Fique por dentro do setor

Inscreva-se na nossa newsletter e receba notícias e conteúdos exclusivos mensalmente.


*As informações cadastradas por este formulário são para uso exclusivo do Instituto Combustível Legal (ICL). Com essas informações podemos oferecer um conteúdo mais adequado a seu perfil.