‘Comendo poeira’: confira dez dicas essenciais para quem vai encarar estradas de terra com carro
Publicado em 16/02/2020 por Marcellus LeitãoVocê vai levar um susto. Dos 1,7 milhão de quilômetros de rodovias oficiais no Brasil, somente 13% são pavimentadas. Veja bem, exatos 221.820 quilômetros são considerados pavimentados, sendo que, você sabe muito bem, muitas dessas estradas são mal conservadas e cheias de buracos. Como comparação, a Índia tem 3,3 milhões de quilômetros de estradas e 47,4% delas são asfaltadas.
Enfim, o “Brasil é de terra” e é preciso saber conviver com esta situação, que envolve, no caso das estradas não pavimentadas, a inexistência de postos de combustível e socorro mecânico caso precise de auxílio ao utilizar essas vias. Por isso, se vai pegar uma estrada de terra, umas das primeiras coisas a se fazer é calcular o consumo de combustível, que preferencialmente deve ser de qualidade para que a autonomia do seu veículo seja garantida, e a distância a ser percorrida. Se a estrada for muito tortuosa, um carro de passeio não dará conta, podendo, até mesmo, criar sérios problemas mecânicos. Considere ter um carro 4X4 ou, pelo menos, um com maior distância livre do solo, o que já ajuda muito.
Alguns cuidados
Para os usuários deste espaço de lazer e aventura, a pressa não é nada. O que vale é o desafio de percorrer lindas paisagens e chegar a recantos maravilhosos, afinal, depois dos piores caminhos estão os melhores lugares. Mas, andar nas estradas de terra exige certos cuidados e atenção. Primeiro pela já mencionada falta de socorro rápido em caso de necessidade; segundo porque acidentes são possíveis, mesmo em baixas velocidades. Cair em valas, atolar e perder pneus rasgados por pedras são possibilidades reais.
Para tanto, preste atenção nessas dez dicas básicas para o uso destas vias:
- Antes de mais nada, lembre-se de fazer a manutenção do seu carro e confira os seus sistemas. Verifique água, óleo, freios, embreagem, pneus e outros itens de segurança, como os cintos.
- Encha o tanque com combustível de um posto de confiança e, se possível, leve um galão de reserva de cinco litros. Os postos são raros nas vias vicinais.
- Não se esqueça de calibrar os pneus e também o estepe. Isto deve ser feito antes de rodar 1,5 quilômetro, de manhã cedo. Se for época de chuvas, use pneus com projeto 30% terra / 70% asfalto, no mínimo.
- Prepare um kit de primeiros socorros, com repelente, protetor solar, agasalhos e roupas extras, além de água e alimentos suficientes para dois ou três dias a mais do que pretende ficar – isso será fundamental caso você fique atolado, ou precise aguardar um reboque.
- Vale a pena ter no carro: cabo para ligação direta (a popular “chupeta”), pás pequenas (melhor ainda se forem dobráveis para ocupar menos espaço), bomba para calibrar os pneus, lanterna, capa de chuva, baterias portáteis para celular, luvas, facão ou machado (uma ferramenta para cortar galhos, caso atole), cinta ou corda para reboque, prancha de desatolagem (se possível) e spray reparador de pneus.
- Convide amigos. O apoio, além de um outro carro, é sempre bom. Avise parentes aonde você está indo.
- Use o dia. Se precisar de suporte, a luz do Sol é o primeiro deles.
- Consulte a previsão do tempo da região onde vai passar.
- Tenha mapas, mas lembre-se de que o mapeamento eletrônico, feito por sites, prefere o asfalto. Há limites na informação.
- Programe o passeio, com pontos de parada e sua chegada.
De olho no combustível
As viagens por estradas vicinais exigem mais energia do motor, portanto, mais combustível. O uso de produtos de qualidade, comprados em postos de confiança, não custa lembrar novamente, garantem um desempenho e autonomia próximas aos definidos pelo projeto do carro. Em veículos 4X4, o peso e o maior números de peças móveis elevam a necessidade de combustível, mas entregam melhores resultados na maioria das condições de uso em pisos de terra. Sendo assim, o gerenciamento dos quilômetros por litro é fundamental.
Antes de iniciar o percurso, zere os dados de seu computador de bordo para ter uma leitura exata de consumo instantâneo, consumo médio e distância percorrida. Com estes valores e a estimativa de percurso, fica fácil atravessar o trecho. Uma dica: lembre-se de encher o tanque de manhã cedo, quando o calor ainda não vaporizou o conteúdo do tanque. Dessa forma, entram mais litros. Mas limite o abastecimento ao clique do automático da bomba para não danificar seu carro.
A escolha dos pneus e calibragem
Se você for encarar terrenos com lama, é preciso estar com pneus lameiros (mud) próprios para off-road, que possuem sulcos maiores e mais largos, oferecendo maior aderência nesse tipo de piso. Pneus para o asfalto não conseguem “limpar” o barro e deixam o pneu liso, fazendo o carro derrapar com mais facilidade. Mas se você estiver com um pneu lameiro, deve ter atenção redobrada ao sair no asfalto, pois ele não tem a aderência adequada para esse tipo de piso. Por outro lado, se você possui apenas um veículo e não pretende se arriscar demais na trilha, pode optar pelos pneus de uso misto, que costumam ser 50% asfalto e 50% para a terra – também são comuns os modelos 70% asfalto e 30% terra.
Outro ponto importante é a calibragem. Na lama e na areia, por exemplo, é aconselhável calibrar os pneus com uma pressão menor para facilitar a transposição do terreno. Murchos, os pneus têm maior área de contato com o solo e assim oferecem maior tração. Mas tome cuidado para não esvaziar demais, pois isso pode fazer o pneu se soltar da roda – pelo mesmo motivo, evite fazer curvas muito fechadas. Especialistas alertam que a pressão adequada nesses casos varia conforme o pneu usado.
Para começar, você pode usar oito libras a menos que a pressão recomendada para asfalto ao rodar na areia e quatro libras a menos para a lama. Sinta como isso afeta a dirigibilidade do carro e baixe um pouco mais a partir dessas referências se achar necessário. Alguns carros aceitam até 12 libras a menos para a areia. Ao passar por pedras, também é recomendável baixar entre três e cinco libras do valor recomendado pelo fabricante. Mas não se esqueça de calibrar novamente com a pressão correta descrita no manual assim que sair da trilha para evitar o desgaste irregular dos pneus.
Em breve, vamos abordar técnicas de direção em estradas de terra. Fique ligado!
Marcellus Leitão é jornalista especializado em automóveis e colunista do Combustível Legal.
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