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Carros movidos a vapor, ar comprimido, carvão, eletricidade e até vácuo… Como a indústria automotiva se reinventou em mais de cem anos

Publicado em 10/03/2021 por Marcellus Leitão

Você vai ao seu posto de confiança, abastece com um combustível normatizado e adequado ao motor do seu carro… Pois bem, saiba que essa rotina simples nem sempre foi assim. A tentativa de substituir a tração animal por fontes de energia foi antecedida por inúmeros experimentos de autopropulsão, um após outro, até hoje. 

Antes da nossa tão conhecida gasolina (não esquecendo do diesel e do etanol, é claro) mover a sociedade em que vivemos, as tentativas humanas para substituir os cavalos para tração dos veículos passaram por várias etapas. Os combustíveis disponíveis eram completamente antiecológicos, como a lenha e o carvão, por exemplo 

Nesse post, vamos contar um pouco dessa jornada, que dura mais de um século. Acompanhe! 

começo de tudo… 

No início, ainda na pré-história da mobilidade, um oficial de artilharia do exército francês, monsieur Cugnot, apresentou, já em 1770, o seu modelo de triciclo a vapor, um veículo que se deslocava sozinho, inaugurando, também, a era dos acidentes. Cugnot não conseguiu fazer uma curva e bateu em um muro, a menos, acredite, de cinco quilômetros por hora. 

Mas um pouco antes dele, ainda no século 18, outro francês, Denis Papin, inventou um motor que funcionava com o vácuo gerado pela condensação do vapor. Na Holanda, Christian Huygens fez outra máquina que funcionava a partir da perigosa explosão da pólvora. Nenhum dos dois teve uso prático e o vapor de Cugnot é considerado o primeiro modelo de automóvel do mundo. 

O vapor gerado por uma caldeira à lenha promovia a força motriz do modelo, que teve algumas experiências anteriores, como estruturas movidas pelo vento, com poucos resultados práticos. O vapor era a novidade. Navios, máquinas industriais e trens faziam fumaça e geraram o progresso, com seus respectivos filhotes, que, na medida do possível, foram evoluindo. 

Um exemplo disso foi o Tarmac Sentinel DG8um misto de trem e caminhão que ainda participa de feiras como atração à parte. 

Mas como a agilidade e o discurso ambiental passam longe desses tipos de fonte de energia, queimar florestas em nome do progresso começou a ficar duvidoso, instalando uma inquietude criativa nos seres mais ousados, que desenvolviam, assim, os caminhos da tecnologia. 

Motores inimagináveis novas fontes de energia  

Turbina de avião? Por que não? 

A liberdade criativa acabou gerando um carro muito estranho, movido à turbina de avião. Esses motores de alta rotação que moviam o Chrysler Turbine Car tiveram vários desdobramentos, e 55 protótipos, construídos entre 1963 e 1964, passearam pelas estradas dos Estados Unidos. O modelo era equipado com câmbio de três marchas, penduradas em um pífio rendimento de 132 cv das turbinas, mas brutais 58,7 mkgf (que é a unidade de medida para o torque do motor. Significa metro x quilograma-forçae um consumo altíssimo. 

Enquanto carros normais de hoje chegam às faixas de corte de rotação de cerca de nove mil rpm (rotações por minuto)para preservar sua integridade, o Turbine girava, pasme, a mais de 45 mil rpm. 

A guerra e o Gasogênio 

Na Segunda Guerra Mundial, o gasogênio (mistura gasosa, que funciona como combustível, obtido da queima de lenha, carvão, bagaço de cana, de sabugo de milho, entre outros materiais) tornou-se alternativa ao racionamento de gasolina em vários países da Europa, além dos EUA e até o Brasil. Aqui, o piloto Chico Landi foi campeão de 1943 a 1945 correndo com esse tipo de combustível. Estes sistemas convertiam madeira, ou carvão, em gases pobres, aspirados pelos cilindros do motor.  

Energia solar 

Nas mesas de projeto há muito tempo, a energia solar já era considerada combustível alternativo para carros desde os anos 80. Foram promovidas competições de longa distância com veículos movidos por motores elétricos alimentados por células fotovoltaicas. 

Infelizmente, até hoje, a aplicação prática direta dessa geração energética nunca foi à frente, a não ser em células de abastecimento para recarregar carros elétricos. 

Gás Natural Veicular (GNV) 

Gás Natural Veicular (GNV), gerado durante a produção de petróleo, acabou sendo, no ramo de alimentos, uma ótima solução para a redução da queima de lenha em fornos de padarias e pizzarias e, de quebra, virou a alternativa ao combustível líquido. Desde 1996, quando começou o seu uso nos veículos automotores, tomou o mercado por sua eficiência e baixo custo.  

As convertedoras hoje estão em toda a parte e há gerações mais modernas de sistemas de GNV veicular que impedem as quebras decorrentes do uso excessivo do gás, que pode ressecar as sedes de válvulas e forçar uma retífica do cabeçote do motor. Nas versões mais atuais, como a presente no Fiat Siena Tetrafuel, o carro determina qual combustível é o ideal para cada momento. 

Elétricosque vieram para ficar 

Na tomada, uma bela solução. A praticidade da carga em casa, ou shoppings, em veículos com baterias de íons de lítio fazem desta uma realidade presente. Vários modelos já são vendidos assim. A aposta é pesada e só o Grupo PSA dispõe, na Europa, de 17 modelos elétricos. 

O questionamento é sobre como a energia para esta massa de veículos será produzida: por meio das perigosas usinas nucleares, das devastadoras hidrelétricas, ou, ainda, das poluentes termelétricas? Uma conta difícil de fechar, diga-se de passagem. 

Bomba, bomba 

Inventado no início da Guerra Fria, em 1958, o Ford Nucleon era a aposta da marca para uma alternativa à gasolina. O modelo totalmente futurista pretendia rodar oito mil quilômetros com energia atômica, algo semelhante aos submarinos nucleares, em que a fissão nuclear aquece um motor a vapor e gira pás de uma turbina e assim vai. Nunca rodou. 

Ar comprimido 

O francês AIRPod parece um ovo de páscoa, mas poderia levar quatro pessoas só com ar comprimido: dois cilindros giram uma ventoinha que transmite força para as rodas. O modelito chegava a 80 km/h e a empresa apostou nesta tecnologia por um bom tempo. Alternativas com geradores alimentados por células fotovoltaicas também surgiram residualmente, mas, até agora, o ar comprimido ainda não chegou aos modelos de produção.  

Etanol 

A revolução agrícola da canadeaçúcar e sua produção gigantesca de etanol deu ao Brasil uma grande dianteira nesta alternativa energética. Outros países não tinham o espaço físico, ou o clima, para a produção de etanol em larga escala. Assim, caminhamos a passos largos para uma estrutura, única no mundo, que contempla o uso do etanol, ou da gasolina, com produção e distribuição totalmente nacionais, em todo o território nacional. 

O problema foi que o salto do etanol anulou os esforços e incentivos oficiais para a pesquisa e desenvolvimento de outras tecnologias, que você vê nesta matéria. 

Motores Flexíveis 

flex fuel é uma invenção brasileira, que nasceu no momento em que a eletrônica dos carros contemporâneos permitia, além da queima da gasolina, a leitura da taxa de compressão e da octanagem diferenciadas do etanol. Dessa forma, muita gente boa começou a adicionar etanol ao tanque para economizar algum dinheiro.  

Para alguns especialistas, o motor flex é como um pato: não nada bem, não anda bem, mas frequenta os dois ambientes. A consagração veio com o mercado, que ainda encontra dificuldades nas contas para saber se o consumo maior do etanol vale a pena.  

Células de combustível 

Apontada como uma das alternativas mais prováveis, a célula de combustível de hidrogênio apareceu primeiro no Honda FCX Clarity, em 2008, com produção e venda aos consumidores em pequena escala. A Toyota não deixou barato e lançou, em 2015, o Mirai. Os problemas residiam no alto custo de produção e nos boatos sobre explosões na célula. 

Já existem protótipos, como o Nissan eBio, que testei aqui no Rio, que são sensacionais, pois tem uma célula de combustível que não usa metais nobres, como a platina, e convertem etanol. 

Neste modelo, um tanque de 30 litros de água misturada ao etanol consegue fazer um carro de 1,5 tonelada andar mais de 600 quilômetros. O custo de produção e a eficiência fazem deste modelo uma boa aposta para o futuro da mobilidade.  

O que vem por aí? 

Elétricos, híbridos, células de combustível. Saboreie o futuro com as novas possibilidades que rodam por aí e que já são realidade em nossas vidas Na próxima matéria, vamos abordar a evolução dos combustíveis, mostrando os esforços da indústria para tornar a gasolina, o diesel e o etanol não somente mais eficientes, como também menos poluentes, atendendo, assim, a uma nova pauta ambiental 

Até lá! 

Marcellus Leitão é jornalista especializado em automóveis, já tendo passado por importantes veículos da imprensa nacional. 

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